Paris, França – Um novo conceito de aeronave pode estar prestes a revolucionar a indústria com uma inovação da Airbus no setor de helicópteros que se comportam como aviões.
Desde os primórdios da aviação, tentativas foram feitas para combinar o voo vertical com o voo horizontal, antes mesmo da criação dos helicópteros modernos. A primeira tentativa surgiu na década de 1930, com os autogiros: pequenas aeronaves que usam um propulsor para ganhar velocidade, fazendo com que o rotor superior entre em autorrotação como resultado da aerodinâmica do movimento para frente. Diferente dos helicópteros, não há conexão entre o rotor e o motor.
A partir desse conceito, foi criado na Inglaterra, no final dos anos 1930, o Girodino, um autogiro com o rotor conectado ao motor. Ele possuía asas e, após a decolagem vertical, o rotor era desconectado para permitir o voo horizontal, como em um avião.
Esse conceito foi explorado até a década de 1960, mas acabou abandonado por limitações tecnológicas da época. Com os avanços recentes, a realidade mudou.
Ainda sob a marca Eurocopter, a Airbus desenvolveu em 2010 o demonstrador X³, baseado no helicóptero H155 Dauphin (AS365), mas com asas e dois rotores dianteiros. Esse projeto evoluiu para o Racer, um novo demonstrador de tecnologia.
O Racer foi apresentado ao público pela primeira vez em voo durante o Paris Air Show 2025. O AEROIN teve acesso exclusivo à aeronave e conheceu de perto essa proposta disruptiva para o futuro dos helicópteros.
Visualmente, o Racer lembra o H160, tanto nas linhas retas da fuselagem quanto na pintura em branco e preto, similar às tendências do setor automotivo. No entanto, a fuselagem é mais alongada e estreita. Segundo o engenheiro da Airbus, Brice Makinadjian, responsável pela demonstração do Racer, a ideia foi criar um projeto simples, com aerodinâmica otimizada e menor arrasto.
“Todos os problemas dos autogiros e multiplanos, como o V-22 Osprey, procuramos eliminar. O Racer é uma aeronave relativamente simples, sem sistemas complexos ou design exótico”, afirmou o engenheiro.
O Racer é equipado com dois motores Safran Aneto, com 2.500 hp cada. Eles não só alimentam o rotor principal, mas também os dois rotores nas pontas das asas, voltados para trás. A decolagem ocorre como em um helicóptero tradicional, mas ao atingir certa velocidade e altitude, a força é redirecionada para os rotores das asas, e o rotor principal entra em autorrotação, mantendo sustentação.
Essa transição simples e eficiente é o grande diferencial do Racer, eliminando mecanismos complexos de reconfiguração como os usados em aeronaves de rotores basculantes.
Segundo a Airbus, as asas geram 50% da sustentação no voo horizontal, com o rotor principal completando o restante. A aeronave atinge velocidades de até 240 nós (440 km/h), estabelecendo um recorde mundial para helicópteros de seu porte em 2024.
O único protótipo existente, apresentado em Le Bourget, tem apenas 32 horas de voo e é usado em avaliações de mercado. Sua configuração atual permite transportar nove passageiros e bagagem. A Airbus o vê como ideal para missões de resgate e segurança pública.
O consumo de combustível pode ser reduzido em até 25% em voos de longa distância em relação a helicópteros convencionais, com o dobro da velocidade. Isso torna o Racer ideal para missões de busca e salvamento em mar aberto, onde não há opção de reabastecimento.
Internamente, a cabine é similar à do H160, com manche e coletivo ainda presentes, embora o Racer voe como um avião em cruzeiro, sem necessidade de inclinação para frente.
Na traseira, os dois estabilizadores verticais do X³ foram mantidos, contribuindo para estabilidade e eficiência dos lemes. Outro diferencial são os propulsores das asas voltados para trás, aumentando a segurança no embarque e reduzindo o ruído na cabine.
O piloto automático já é programado para realizar as transições entre voo vertical e horizontal. Segundo a Airbus, um piloto do H160 foi capaz de operar o Racer após apenas 30 minutos de instrução.
Apesar das inovações, o Racer ainda é um demonstrador tecnológico. A Airbus está ouvindo o mercado para definir especificações, e planeja certificá-lo como helicóptero, o que reduziria custos e aceleraria uma eventual produção em série.
Fonte: Aeroin